PERSONAGENS
NA TRAMA FINAL DOS TEMPLÁRIOS:
Felipe IV,
“o Belo”, rei da França
Nascido em 1268, se tornou rei da
França em 1285, vindo a falecer em 1314. Filho de Felipe III, “o Ousado”
(1270-1285) e de Isabel de Aragão, ficou órfão de mãe durante a infância. Seu
pai voltaria a se casar, dessa vez com Maria, filha de Henrique III, duque de
Baramante. Enquanto criança, Felipe IV teve muita insegurança em relação à sua
madrasta, pois rumores acusavam a rainha Maria de ter envenenado seu irmão
Luís. Casou-se aos dezesseis anos com Joana de Navarra. Esta faleceu no ano de
1305 e o rei Felipe, afetado pela perda, não voltou mais a se casar.
Dono de uma personalidade vingativa,
agressiva e sem humor, Felipe, “o Belo” continuou a política da dinastia dos
capetíngios de fortalecimento e centralização do poder da monarquia francesa.
Durante seu reinado, podemos destacar de uma sucessão de fatos e eventos:
·
Intensificação
da burocratização do Estado francês com a utilização de “légistes”, juristas especializados em direito romano e que
defendiam a ampliação da autoridade do monarca;
·
Utilização
dos recursos financeiros do Estado na centralização da máquina administrativa
monárquica, cobrando impostos no lugar de serviços militares, criando taxas
sobre operações comerciais e explorando as obrigações feudais ao máximo;
·
1294:
Invasão do feudo da Gasconha, posse do Duque Eduardo I (1274-1307), também rei
da Inglaterra e seu principal opositor às políticas de centralização de poder.
O objetivo da invasão era o de anexar o feudo aos domínios sob o controle de Felipe IV. Os
ingleses tinham como aliado Flandres, o que levou a França a uma segunda guerra
contra essa região. A paz contra a Inglaterra veio em 1298, por mediação do
Papa Bonifácio VIII (1294-1303) e pelo casamento da filha do Rei francês com o filho do
monarca inglês. Já a paz com Flandres foi conseguida em 1302, após a derrota da
cavalaria francesa na batalha de Courtrai;
·
As
guerras contra a Inglaterra e Flandres deixaram o Reino da França em graves
problemas financeiros. A administração real fez três manobras para conter o
problema financeiro: a primeira foi depreciar o valor da moeda francesa,
reduzindo em dois terços a quantidade de ouro nas mesmas. Essa desvalorização
acarretou um aumento no preço dos alimentos, fato que gerou uma revolta popular
que levou o Rei e sua corte a se abrigarem sob a proteção dos Templários.
Felipe IV acabou pedindo um empréstimo aos Cavaleiros do Templo para
estabelecer a economia francesa; a segunda ação foi perseguir as minorias ricas
e impopulares de seu Reino, expulsando-os e confiscando seus bens. Assim
ocorreu com os judeus em 1306 e com os lombardos em 1311: a terceira ação foi
taxar o clero francês, fato que o levou a uma disputa de poder com o Papa
Bonifácio VIII;
·
As
disputas contra Bonifácio VIII se toraram o centro dos problemas de seu
reinado. O Papa utilizava a política de ampliação dos poderes espirituais
papais e a superioridade desse poder sobre o poder dos monarcas. Através de uma
bula papal, em 1296 o Papa Bonifácio condenou qualquer taxação do clero sem a
autoridade papal. A monarquia francesa não recebeu essas palavras de bom grado
e duríssimas disputas diplomáticas começaram. A paz foi alcançada após o Rei
Felipe enviar uma delegação ao Papa pedindo do mesmo ajuda financeira para
salvar a França. Bonifácio VIII aceitou então a taxação do clero francês, desde
que essa cobrança fosse feita para salvar o país. Para selar esse acordo, o
Papa ainda declarou santo o avô de Felipe IV, o Rei Luís IX (1226-1270);
·
Os
confrontos entre Igreja e Estado ocorreriam novamente no ano de 1301, quando o
Rei francês mandou prender o Bispo de Pamiers por comentários desdenhosos
contra a pessoa do monarca. Sobre o bispo recaíram as acusações de heresia e
traição. Bonifácio novamente lançou uma bula papal, dizendo que só o Papa tinha
o direito de prender membros do clero. Felipe IV enviou uma carta ao pontífice
em resposta a publicação. Esse é um fragmento do texto:
Eu, Felipe, por graça de Deus, rei da França, a
Bonifácio, que se diz papa e desonra a cadeira de São Pedro, pouca ou nenhuma
saúde!
Sabeis que o rei da França quer e manda, e que quando
mando e quero nem o próprio Deus pode opor-se aos meus desígnios [...] (COUTO,
Sérgio Pereira. Sociedades secretas: templários. São Paulo: Universo dos Livros, 2006, p. 29).
·
O
Rei então iniciou uma ferrenha luta contra o papado. Os advogados reais começaram
a imputar contra o Papa acusações de heresia. Bonifácio VIII por sua vez
preparou uma bula de excomunhão, mas antes de sua publicação ele foi atacado
por saldados franceses em sua propriedade em Anagni. O objetivo dos soldados
era prender o pontífice e levar o mesmo para a França, onde seria julgado pelas
acusações de heresia. Entretanto a população de Anagni se reuniu em defesa de
Bonifácio VIII, que conseguiu fugir. Ele regressou para Roma, mas fortemente
abatido, recusava alimentar-se e acabou morrendo em 11 de outubro de 1303;
·
No
ano de 1305, Felipe, “o Belo” usou sua influência e a ajuda do Cardeal francês
Niccolò da Prato para angariar votos na eleição do Colégio de Cardeais que
elegeu o arcebispo francês da cidade de Bordéus, Beltrão de Got para ocupar o
posto de Papa. Esse pontífice acabou cedendo às pressões do monarca em diversos
momentos;
·
O
último grande evento do reinado de Felipe IV foi a perseguição aos membros da
Ordem do Templo.
Beltrão
de Got, Papa Clemente V (1305-1314)
Nascido em 1264, na cidade de
Bordéus, França, Beltrão se tornou arcebispo de sua cidade natal em 1299 e
chegou ao trono papal por influência direta de Felipe IV, “o Belo”, Rei da
França. Sua coroação foi em Lion, na presença do Rei francês e seu pontificado
ficou conhecido pela mudança da Santa Sé de Roma para Avignon e pelo processo
de Inquisição contra os Templários.
Jacques De
Molay (1244-1314)
Nascido em Vitrey, França, no ano de
1244 e originário da pequena nobreza, veio a se tornar Cavaleiro Templário em
1265 e prestou todos os seus anos de serviço ao Templo na Palestina, lutando
contra os sarracenos. Foi um dos dez cavaleiros que resistiu ao cerco de Acre,
em 1291. Durante o grão-mestrado de Teobaldo de Gaudin foi nomeado para o cargo
de Grão-Comandante, uma espécie de regente dos Templários no caso de vacância
do Grão-Mestrado. Durante a eleição para o cargo de Grão-Mestre em 1293, De
Molay estava presidindo a reunião, na qual ele mesmo saiu como Grão-Mestre. Em
1294 ele viajou para a Europa buscando apoio à sua Ordem e para uma futura
cruzada. Mas o fato mais marcante de seu grão-mestrado está na perseguição que
sua Ordem sofreu.
Guilherme
de Nogaret, Guarda selos do Rei da França
Pouco se sabe sobre os primeiros anos
de vida de Guilherme de Nogaret. Sugeri-se que ele teria pertencido a uma
família de descendência cátara, e que seus pais tenham sido queimados como
hereges. O que é palpável sobre sua vida é confirmação de que ele era um
advogado proveniente do condado de Toulouse.
Hugues
de Pérraud
Cavaleiro francês que atuou durante os
seus trinta anos de Ordem na diplomacia europeia, junto à Igreja e à coroa
francesa e nunca chegou a combater os inimigos sarracenos na palestina.
A
PERDA DA TERRA SANTA:
Até meados do século XII, os cristãos
do oriente conseguiram resistir, apesar da fraqueza militar, aos ataques dos
muçulmanos. Isso se deve, de certa forma, ao fato da incapacidade de união
entre as lideranças islâmicas. Situação que mudou quando Saladino[1]
tornou-se o soberano mais importante do mundo muçulmano, unindo os Estados
islâmicos em uma jihad[2]
contra os cristãos. A maior perda da cristandade ocorreu em 1187, quando sob o
comando de Saladino, as forças muçulmanas retomaram Jerusalém, após 88 anos de
domínio cristão.
Gradativamente os reinos cristãos do
oriente foram sofrendo derrotas e se tornando cada vez mais dependentes da
ajuda militar europeia. Foram organizadas novas cruzadas, mas estas se
mostraram um completo fracasso. Muitas corresponderam aos interesses privados
de Papas ou governantes. Pode-se destacar como melhor exemplo a quarta cruzada,
em que os exércitos foram levados a saquear a cidade de Constantinopla,
satisfazendo aos interesses comerciais da cidade de Veneza e políticos do
príncipe grego Aleixo IV Ângelo (1203-1204), que reivindicava o trono bizantino.
O próprio conceito de “cruzada”
havia se modificado com o passar dos anos. No momento de sua criação, essas
expedições buscavam combater os inimigos muçulmanos da cristandade, representando
assim uma coletividade. Em um segundo momento, esse movimento representava a
luta contra os opositores da ortodoxia católica europeia, como ocorreu contra a
seita herética dos cátaros, entre 1209-1229[3].
Mas o declínio do ideal cruzado não foi causado só em decorrência dos fracassos
militares de expedições, ou da modificação do conceito de “cruzada”. A Europa
passava por um contexto político, econômico e social diferente daquele da época
da primeira cruzada. O comércio apresentava seu desenvolvimento, os centros
urbanos também estavam em crescimento e a velocidade da densidade demográfica
começou a diminuir (PAIS, 1992).
A primeira cruzada representou uma
“visão de mundo européia”, na qual a cristandade de dispôs como um todo na luta
contra os infiéis ou os seus inimigos. Nesse momento, a união entre a Igreja e
uma aristocracia militar, acabou forjando o conceito do monge guerreiro sobre o
qual a Ordem do Templo se baseou. Não havendo mais esse momento histórico,
esses ideais se perderam.
O golpe final contra a cristandade
na Palestina foi a queda do último reduto cristão, a cidade portuária de Acre,
tomada pelos muçulmanos em 1291. Os Cavaleiros Templários resistiram bravamente
ao cerco. Durante as batalhas, Guilherme de Beujeu (1275-1291)[4],
Mestre da Ordem, tombou diante das portas da fortaleza templária, último
edifício a ser tomado pelas forças inimigas. Não havendo mais nenhum reduto na
Terra Santa, a Ordem mudou sua Sede para a Ilha de Chipre[5],
no mar Mediterrâneo, local onde a Organização possuía terras e que seria
estrategicamente mais próximo da Palestina.
AS
DIVERGÊNCIAS DENTRO DA ORDEM DO TEMPLO:
Nos anos seguintes à queda de Acre,
observou-se uma modificação no equilíbrio interno da Ordem, que antes dava mais
importância às práticas militares. Para uma noção de análise, durante os anos
de dominação cristã na Terra Santa, cada casa templária na Europa era obrigada
a fornecer um cavaleiro treinado e equipado, bem como também recursos
financeiros para o combate às forças islâmicas. As comendadorias[6]
templárias também forneciam artigos “brutos”, além de combatentes, como cavalos
e armas, para o combate no Oriente. Todos os recursos eram transportados por
embarcações templárias via Mar Mediterrâneo, da Europa até a Palestina.
Secundariamente havia atividades financeiras. Muitos peregrinos em direção aos
locais sagrados da Terra Santa deixavam quantidades de ouro em custódia dos
Templários em alguma casa da Ordem no continente europeu. Em troca ganhavam um
recibo, do qual poderiam resgatar a mesma quantia em ouro em alguma casa do
Templo na Palestina. Atribui-se aos Templários a invenção das modernas
transações econômicas de depósito e saque de valores monetários. Logicamente
era cobrada uma taxa para a prestação desse serviço.
Mas com a perda da Terra Santa, a
organização passou a valorizar as suas atividades mercantis/financeiras. A
razão de criação e existência da Ordem, que era a de proteger os peregrinos e
defender locais sagrados contra os “infiéis” muçulmanos, havia se “perdido” com
a queda de Acre, pois não havia mais o que ser protegido. Com o objetivo de dar
feições mais modernas ao Templo, as comendadorias da Europa passaram a usar
toda a estrutura que antes atendia as finalidades militares para gerar
riquezas. Exemplo disso é o quartel-general, ou o Templo, de Paris, que se
tornou a tesouraria da coroa francesa. Com o aumento dessas atividades, que
antes eram secundárias, cada vez mais aumentou a necessidade de ter pessoas com
instrução dentro da Instituição, para ocupar cargos de administradores,
diplomatas, contadores e escrivães. Antes uma Organização de cavaleiros
iletrados, depois de técnicos em atividades financeiras e políticas.
Todavia de certa forma é um engano
achar que os Templários sofreram uma renovação dentro de sua estrutura. Ela só
foi desequilibrada. A elite de cavaleiros voltados para atividades militares
continuou sendo a maioria no quadro de membros da Ordem e a vocação militar
ainda predominava, como mostram os fatos da eleição do Grão-Mestrado em 1293.
A nova situação histórica acabou
gerando dois blocos dentro da instituição, e a oposição entre esses dois pólos
ocasionou esse desequilíbrio interno. Uma das facções era a que representava o
corpo de administradores e diplomatas, localizando-se na Europa, especialmente
na França. O outro grupo ainda sustentava as tradições militares e se fixava em
Chipre, então Sede do governo central da Ordem. Os grupos Ocidental e o
Oriental tiveram seu primeiro e mais forte embate durante a eleição do sucessor
de Teobaldo Gaudin[7].
Na presidência da votação estava
Jacques De Molay, um cavaleiro originário da pequena nobreza francesa, que
prestou todos os seus anos de serviço pela Ordem no Oriente Médio. Pelos seus
notórios serviços, durante o comando de Gaudin como Grão-Mestre, De Molay foi
nomeado para o cargo de Grão-Comandante, uma espécie de regente do Templo no
caso da vacância do Grão-Mestrado devido à morte de seu ocupante. Para muitos,
esse cargo de regência era o prelúdio para a ocupação da chefia geral da Ordem.
Mas durante a eleição de 1293, a facção Ocidental apresentou o nome de Hugues
de Pérraud, cavaleiro francês que atuou durante os seus trinta anos de Ordem na
diplomacia européia, junto à Igreja e à coroa francesa. Para esse grupo,
Pérraud era o nome que melhor representava o novo “projeto” de Templo para as
novas contingências históricas.
Já o grupo oriental sustentava a
defesa do nome de Jacques De Molay, visto por eles como um cavaleiro que
entendia do inimigo islâmico e conhecia a Terra Santa, devido aos seus
trabalhos no Oriente. Como a proporção de cavaleiros voltados exclusivamente
para atividades militares era maior do que a de cavaleiros com atividades
administrativas e diplomáticas, a facção oriental, que visava o projeto de
retomada da Palestina, acabou sendo maioria. Essa facção utilizou dois
argumentos para defender seus pontos de vista: o primeiro deles se referia ao
fato de Pérraud nunca ter ido ao Oriente e jamais ter combatido um inimigo
islâmico. Então como ele poderia liderar a Ordem no caso de uma cruzada para
retomar a Terra Santa? O segundo argumento se baseou no medo de que a escolha
de um diplomata para o comando geral da Ordem levasse a decadência da vocação
militar da Organização.
Segundo o testemunho do confrade
Hugues de Faure, que assistiu aos fatos ocorridos no capítulo geral, em uma
manobra política, visando à integridade interna de sua Ordem, De Molay teria
utilizado de seu cargo de regência para negociar a sucessão. Ele seria o
Grão-Mestre, residindo em Chipre, para poder auxiliar e coordenar as operações
militares na Palestina. Pérraud ficaria como Visitador do Ocidente, cargo
imediatamente abaixo do Mestre e sob a graça deste, ele poderia agir como
plenipotenciário nos assuntos diplomáticos com os reinos europeus e o papado,
visando assim acabar com o intervalo de espera nas comunicações entre Chipre e
a Europa.
A Organização acabava ganhando uma
estrutura “diarquica” e personificada. Em Chipre estava Jacques De Molay e a
coalizão oriental, que visava à retomada da Terra Santa e a conservação das
tradições militares do Templo. Na França estava Hugues de Pérraud e o grupo
ocidental que buscava estabelecer as atividades diplomáticas como alicerce
primordial da Ordem para os novos tempos. No entanto, a estrutura “diárquica”
era experimental, devido ao momento histórico. Com uma possível retomada da Terra
Santa, essa forma administrativa poderia ser abolida, dando preferência à
coalizão oriental.
Mas mesmo se apresentando como uma
forma “moderna” para a Ordem, essa estrutura apresentava suas fissuras. Pérraud
e Molay constantemente estavam em conflitos administrativos. Para enfraquecer a
coalizão oriental, o Visitador do Ocidente se aproximou do Conselho da França,
buscando aliados para poder derrubar o Grão-Mestre e assumir o controle geral
do Templo. O que ele não imaginava é que seria usado pelos advogados franceses
com o objetivo de destruir a Ordem.
UM
PAPA FRANCÊS:
Logo após a morte de Bonifacio VIII,
em 1303, uma eleição para o cargo papal foi feita. O arcebispo de Óstia,
Niccolò Boccasino, foi escolhido para o ser o Papa. Este tomou para si o nome
de Bento XI (1303-1304), mas faleceu um ano após a sua ascensão. Foi realizada novamente
uma reunião para eleger um novo Papa e após onze meses de deliberações chegaram
a um acordo, aceitando como pontífice o arcebispo francês da cidade de Bordéus,
Beltrão de Got, que tomou para si o nome de Clemente V (1305-1314).
Um francês subia ao Trono Pontifício
depois de anos de conflito entre o papado e o Rei da França, mas essa ascensão
teve uma importante ajuda e influência do monarca da França. Com a ajuda do
Cardeal francês Niccolò da Prato, Felipe IV conseguiu angariar dez dos quinze
votos do Colégio de Cardeais.
Porém qual seria o motivo que levou
Beltrão de Got a ser o candidato do Rei? Segundo dois cronistas italianos da
época, Agnaldo de Tura e Giovani Villani, Felipe, “o Belo” teria tido uma
entrevista com o arcebispo de Bordéus, na qual ofereceu apoio real à escolha do
nome de Got para o papado, desde que, como Papa, Beltrão realizasse algumas
exigências do Rei: reconciliação de Felipe IV e de todo o seu reino com a
Igreja; condenação póstuma de Bonifácio VIII como herege; mudança da Sé de Roma
para os domínios franceses; nomeação ao cardinalato de membros do clero
francês; que a Igreja concedesse durante cinco anos dízimos à França e um
último pedido, que seria informado em momento apropriado.
Beltrão de Got foi coroado como
Clemente V em 14 de novembro de 1305, em Lyon, na presença do Rei da França. O
novo Papa satisfez as exigências reais. Mas os escritos dos dois cronistas
italianos, que retratam a entrevista do Rei com o arcebispo devem ser tomados
com cuidado, pois apresentam uma visão própria e influenciável. Uma vez como Sumo
Pontífice, Beltrão de Got nunca pisou na Itália, mantendo-se somente na França.
Para os italianos, Beltrão não passava de uma marionete nas mãos de Felipe IV.
O encontro poderia explicar o motivo de tanta submissão.
A
PROPOSTA DE UNIÃO DO TEMPLO E DO HOSPITAL:
Em 1287, um pregador francês de nome
Raymond Lull escreveu textos abordando o tema de união das Ordens do Templo e
do Hospital, com o objetivo de reconquista da Terra Santa. Segundo ele, o líder
dessa nova organização deveria ser um monarca que teria o papel de um “rei
guerreiro”. Na visão desse pregador, esse “rei” deveria ser Felipe IV, “o Belo”.
Felipe IV então utilizou toda a
conjuntura política e ideológica da época sobre a união das Ordens militares. Ambos
os chefes das duas Ordens receberam muito mal a proposta. Nenhuma das duas
organizações queria perder sua autonomia. No encontro destes com Clemente V em
seis de Junho, o Mestre do Templo, Jacques De Molay, apresentou dois textos
separados ao Papa. O primeiro dizia a respeito da organização de uma nova
cruzada, inspirada em modelos clássicos, na qual seriam utilizados grandes
exércitos provenientes de toda cristandade. O segundo tratava da proposta de
união das duas Ordens. Intitulado “De unione Templi et Hospitalis Ordinum ad
Clementem Papam Jacobi de Molayo Relatio”[8].
O texto expõe argumentos a favor e contra a união, logicamente sendo mais
inclinado contra a proposta. As exposições de Jacques De Molay acabaram
convencendo o Papa a deixar de lado o projeto de união das Ordens.
[1] Salah-al-Din Yusuf ibn Ayub nasceu em
1137, nas montanhas de Tikrit, atual Iraque. Saladino unificou o Império
muçulmano em 1183, após a batalha de Alepo. Morreu em março de 1193, aos 55
anos. Até os dias atuais ele é considerado um dos maiores líderes do islã
(SGARIONI, 2005, p. 34).
[2] Guerra santa (SGARIONI, 2005, p. 36).
[3] Os cátaros eram cristãos dualistas e
tinham ensinamentos anti-papais . A chamada de Cruzada Albigense ocorreu
durante o papado de Inocêncio III, que a decretou com a finalidade de acabar
com a seita herética dos Cátaros, na região do Languedoc, no sul da França.
(YUDENITSCH, 2005, p. 49).
[4] Grão-Mestre do Templo entre os anos
de 1275 a 1291. Assumiu a Ordem em um momento difícil para os cristãos na
Palestina (BOURRE, 2005, p.106)
[5] Ver ilustração 1 em cruzadas.
[6] Eram núcleos de organização agrícola
ou militar que pertenciam aos Cavaleiros Templários (BOURRE, 2005, p. 45-46).
[7] Teobaldo de Gaudin foi eleito como
Grão-Mestre dos cavaleiros ainda em 1291, mas acabou falecendo em 1293 (READ,
2001, p. 271).
[8] Relatório de Jacques De Molay ao Papa
Clemente V sobre a união das Ordens do Templo e do Hospital (BURMAN, 2007, p.
194).
Ótimo artigo meu irmão, com certeza ajudou nossos Cavaleiros em seus PACCs!
ResponderExcluirObrigado pelo artigo irmão
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