A fundação da Ordem do Templo



     Os problemas de defesa e proteção dos peregrinos continuavam, quando em 1114, um cavaleiro de origem francesa, chamado Hugo, ou Hugues, de Payens chegou à Terra Santa. O que se sabe da vida pregressa desse homem é que ele era vassalo do Conde Hugo de Champgne e senhor do feudo de Montigny. Ele possivelmente também participou da primeira cruzada. Retornou para a Europa e após a morte de sua esposa, não tendo nenhum herdeiro, ele se desfez de seus bens e se mudou para a Palestina (FRALE, 2007, p. 21-22).
     Na páscoa de 1119, um grupo de setecentos peregrinos foi atacado. Trezentos foram massacrados e outros sessenta foram levados como prisioneiros. Esse acontecimento chocou toda a cristandade na Terra Santa (WASSERMAN, 2009, p. 44).
        Vendo as condições de proteção aos peregrinos cristãos naquele local, Hugo, juntamente com outro cavaleiro francês, chamado Godofredo de Saint-Omer, solicitaram uma audiência com o Rei Balduíno II. Diante do Rei eles propuseram a criação de uma organização que tivesse como objetivo a proteção aos peregrinos por meio das armas, mas que também realizasse os votos religiosos de pobreza, castidade e obediência (READ, 2001, p. 101). No natal de 1119, Payens e Saint-Omer, juntamente com outros sete cavaleiros de origem francesa[1], prestaram seus votos na Igreja do Santo Sepulcro, perante o Patriarca de Jerusalém Garimond de Picquigny e se intitularam de “Os Pobres Soldados de Jesus Cristo”. Não usavam hábitos religiosos, somente vestes comuns, doadas pelos cidadãos da cidade santa (MONTAGNAC, 2005, p. 16). O Rei, vendo que eles não possuíam nenhuma acomodação ou sede, ofereceu-lhes uma ala de seu palácio, onde antes fora edificado o Templo de Salomão[2], do qual só restaram as ruínas. Esse fato acabaria mudando o nome da Organização para “Os Pobres Soldados de Jesus Cristo e do Templo de Salomão”, o que mais tarde originaria o nome “Templários”[3]. Além de estabelecer os cavaleiros em um local, o monarca e o patriarca ofereceram outros benefícios e doações, para que a Ordem pudesse se manter e cumprir com seu objetivo  militar (FRALE, 2007, p. 22-23).
        Inicialmente os Templários utilizavam as regras de Santo Agostinho, que trazia a ideia de guerra justa e conciliava a vida monástica com o treinamento militar (MONTAGNAC, 2005, p. 16).
         A fraternidade criada por Hugo e Godofredo era uma importante arma para cobrir a falta de contingente militar do Rei de Jerusalém, mas como fazer com que essa milícia não atendesse aos interesses privados de senhores feudais? A solução estava em submeter os cavaleiros à autoridade da Igreja, dessa forma o monarca de Jerusalém poderia sempre utilizar os serviços dos Templários em nome da cristandade latina na Terra Santa (FRALE, 2007, p. 22). Para tanto, Balduíno escreveu uma carta para o abade Bernardo de Clairvaux[4], importante teólogo da cristandade, pedindo a ajuda desse para conseguir a aprovação papal para a Ordem. O Rei também solicitava que o abade redigisse uma regra para os Cavaleiros do Templo (BURMAN, 2007, p. 23).
       Em 1126, Payens e outros cavaleiros partiram para a Europa com o objetivo de alistar novos membros e conseguir doações. André de Montbard[5] ficou incumbido de entregar a carta a Bernardo, já que era tio do abade de Clairvaux. No ano de 1128, ocorreu o Concílio[6] de Troyes, convocado a pedido de Bernardo de Clairvaux, com o objetivo de discutir a questão Templária. A Igreja Católica reconheceu a Ordem dos Cavaleiros do Templo como uma organização submetida aos poderes da Igreja, devido à ampla defesa de Bernardo a essa instituição. Ficava estabelecido também que todos os Cavaleiros deveriam usar uma túnica branca. A cruz vermelha só seria adicionada em 1147 (WASSERMAN, 2009, p. 51). O próprio Bernardo elaborou a regra Templária, como lhe foi pedido pelo rei de Jerusalém. Devido a ele pertencer a uma linhagem da nobreza cavalheiresca, o abade ficou muito feliz com o ideal da nova organização. Já que para ele representava a “revitalização da cavalaria” (FRALE, 2006, p. 47).


[1] Os nomes deles são André de Montbard, Payen de Montdidier, Arquibaldo (Archambaud) de Saint-Aignan, Gondemare, Godofredo (Godefroy), Rosal (Rolando), Geoffroy Bisol (COUTO, 2006, p. 16).
[2] Foi um Templo construído em 961 a. C., dentro da cidade de Jerusalém, para abrigar a Arca da Aliança (READ, 2001, p. 19).
[3] Com o passar dos anos o nome “Os Pobres Soldados de Jesus Cristo e do Templo de Salomão” foi passando por modificações. Primeiro se tornou “Cavaleiros do Templo de Salomão”, depois “Cavaleiros do Templo”, para se tornar por fim “Templários” ou simplesmente “o Templo” (READ, 2001, p. 101).
[4] Membro de família da pequena nobreza da Borgonha, Bernardo aos vinte um anos entrou para a vida eclesiástica, tornando-se o principal teólogo católico de sua época. Ele era também sobrinho de André de Montbard, um dos nove Templários originais (FRALE, 2006, p. 35).
[5] Um dos nove templários originais, foi eleito Grão-Mestre do Templo em 1154 e governou a Ordem até 1156 (COUTO, 2006, p.23).
[6] Uma assembleia de clérigos reunida para legislar sobre assuntos eclesiásticos (FRANCO JÚNIOR, 2001, p. 181).

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